Mais de duas dĂ©cadas apĂłs lançar seu primeiro livro, Os infantes de dezembro (poesia, 2000), o ator e escritor paulistano Antonio Calloni publicou neste ano o romance Filho da noite. A ideia da obra, no entanto, surgiu na dĂ©cada de 1990 e começou a ser realizada em 2013 — um longo processo de criação que espelha a complexidade da trama divida em duas partes, labirĂntica, que vai do terror psicolĂłgico ao surrealismo. Para dar conta de uma variada gama de gĂŞneros e sensações, a questĂŁo central Ă© a vida — ou como cada um de nĂłs a inventa. Já na primeira linha, uma dica do tom onĂrico que perpassa o trabalho: “… É possĂvel”. Ao iniciar o texto com reticĂŞncias e uma palavra tĂŁo vasta quanto “possĂvel”, surge a abertura para navegar por águas profundas, inclusive as do impossĂvel, por meio da histĂłria de Agenor, que perdeu filho e esposa, e do investigador Antonio, na segunda parte, que tenta tomar as rĂ©deas da narrativa. Para o poeta Geraldo Carneiro, o livro parece cultivar “a desordem de Clarice e a liberdade linguĂstica de GuimarĂŁes Rosa”.