šŸ”“ JuliĆ”n Fuks

"Não faço a menor ideia do que vou escrever sobre a pandemia. Nem se vou escrever. Sinto que houve uma antecipação enorme dessa resposta"
JuliĆ”n Fuks, autor de ā€œLembremos do futuroā€. Foto: Toma Bertelsen
01/07/2021

O escritor e crĆ­tico literĆ”rio JuliĆ”n Fuks abriu, em 8 de junho, a 10ĀŖ temporada do Paiol LiterĆ”rio — projeto realizado pelo Rascunho, com patrocĆ­nio do ItaĆŗ, por meio da Lei Federal de Incentivo Ć  Cultura. Neste ano, os encontros acontecem online, com transmissĆ£o pelo YouTube, e todo conteĆŗdo fica tambĆ©m disponĆ­vel no site paiolliterario.com.br.

Paulistano de 1981, Fuks lançou recentemente Romance: história de uma ideia (2021), no qual repensa a história elitista desse gênero literÔrio. Como romancista, entre outros títulos, é autor de A ocupação (2019) e do premiado A resistência (2015), vencedor dos prêmios Jabuti, Saramago e Anna Seghers.

Realizado desde 2006, o Paiol LiterÔrio jÔ recebeu 72 escritores. O próximo bate-papo acontece em 6 de julho, às 19h30, com participação da poeta e tradutora carioca Marília Garcia. A medição dos encontros é do jornalista e escritor Rogério Pereira, editor do Rascunho.

• A literatura transforma
A literatura multiplica, diversifica, abre caminhos. Aprofunda um cotidiano, uma rotina. Rompe superfícies, limitações imediatas do nosso dia. Da nossa vida. Ela tem esse poder de transformar um dia em uma coisa completamente diferente do que a gente esperaria, imaginaria, do que temos à disposição comumente. Estou aqui me aproximando dos riscos do clichê, óbvio, as perguntas mais amplas sempre nos colocam nessa condição. Mas, de fato, é algo que sinto. Sinto que o dia pode existir em uma certa normalidade, num certo torpor do cotidiano, da notícia, do irrelevante, e a literatura é capaz de romper esse registro, abrir um tempo a partir do outro tempo. De constituir uma experiência completamente distinta naquele mesmo lugar e momento.

• Leitor pacĆ­fico
Meu processo como leitor, de início, foi bastante tranquilo e harmÓnico. Nada que se assemelhe aos grandes registros dos leitores históricos da literatura, um sujeito que precocemente se entregava a ler Dante, Cervantes, o que quer que seja. Fui trilhando o caminho bÔsico de me dedicar aos livros correspondentes à minha idade, lendo literatura juvenil com entusiasmo, com entrega. Isso foi se tornando outra coisa à medida que se fez mais evidente o desejo de me tornar escritor.

• Cronicamente insatisfeito
Gostaria de dizer algo mais borgiano, do tipo ā€œmeu grande feito na literatura sĆ£o os livros que li, e nĆ£o os livros que escreviā€, algo assim, mas nĆ£o sou um leitor pacĆ­fico. Nem passivo. Me sinto um leitor arredio, muitas vezes. Minha relação com a escrita Ć© por si mesma um tanto arredia — de aproximaƧƵes e afastamentos, de lugares de desconforto. Escrever Ć© um problema desde sempre. HĆ” uma percepção de impossibilidade quase constante. Na leitura, nĆ£o Ć© tĆ£o diferente. HĆ” momentos em que me vejo cronicamente insatisfeito, deslocado no exercĆ­cio da leitura, sempre Ć  procura de uma obra que me envolva, me cative, me domine — como talvez aconteƧa nas melhores leituras. Sinto que, Ć s vezes, isso falha.

• ReferĆŖncias mutĆ”veis
Aos poucos, fui criando referĆŖncias mutĆ”veis. A cada momento, cada fase da minha vida, me aproximo mais de alguns autores, geralmente bastante relacionados com aquilo que desejo escrever, com o que tem me movido para a escrita literĆ”ria. No meu primeiro livro mais sĆ©rio, Histórias de literatura e cegueira (2007), hĆ” referĆŖncias que eu tentava emular no meu próprio estilo — muito Borges, JoĆ£o Cabral, James Joyce. Depois, fui migrando para o Juan JosĆ© Saer, um autor argentino que me marcou muito durante a escrita de um livro posterior.

ā€œA crĆ­tica literĆ”ria — como a própria literatura, a cultura como um todo — tem sido estrangulada no atual cenĆ”rio da nossa sociedade.ā€

• Leitura inquieta
Em parte, sinto que tenho uma infidelidade grande com os autores que abraço, que desejo que me influenciem. E me vejo, também, migrando continuamente entre uma proposta e outra, em uma certa inquietude que deriva do exercício da escrita. A escrita inquieta cria uma leitura inquieta, quase que inevitavelmente. Desejaria ser outro tipo de leitor, mas não consigo. Quem sabe um dia.

• ContĆ”gio literĆ”rio
Sinto que quase toda leitura acaba incidindo no que a gente produz. A gente se deixa permear, e se contagiar, por tudo aquilo que lê. Acontece uma transmissão forte em qualquer leitura, e sinto isso muito evidente no momento em que vou escrever, marcado pelo que li nos últimos meses, ou nos últimos dias, ou no momento anterior à própria escrita. Algo que reverbera, que repercute no ato da escrita. Claro que isso gera certa inquietude, desconforto.

• Desejo de leitor
Desejaria ser um leitor mais generoso, mais entregue, capaz de devassar outros mundos, e de me deixar ler sem tanto juƭzo. Sem tanto julgamento, sem tanto controle no exercƭcio da leitura. Acho que isso deriva do fato de eu ser um escritor que se propƵe muito ao controle, que deseja trilhar muito imediatamente aquele trajeto da escrita, escolher precisamente cada palavra, cada frase. Em parte, isso me fere como leitor. Passo a observar isso em outras obras, passo a controlar o exercƭcio da leitura em si, e perco certa entrega e generosidade. Gostaria de ser esse outro sujeito. Almejo ser. Acho que em algum momento algo pode arrefecer em mim, e eu passe a ser outro tipo de leitor. Seria muito favorƔvel ao meu prazer.

• DecisĆ£o incontornĆ”vel
Me dei conta de que a escrita tinha mais importância para mim do que todas as outras coisas. Que eu me dedicava, ou me divertia, muito com o futebol, mas que não seria um ofício. Que poderia ficar contente em me sair bem numa prova de matemÔtica, mas aquilo importava menos do que receber um elogio depois de escrever uma redação. Em algum momento, a escrita se tornou mais central em minha vida. Comecei a escrever muito lateralmente uns poeminhas, que depois guardava numa gaveta e nunca voltava a olhar. Meu começo foi bem convencional. Mas, sobretudo, sinto que se definiu um imperativo. Num dado momento, decidi que seria escritor. Tornou-se um objetivo, um caminho a ser perseguido.

• Rigor
Desde o comeƧo, me perguntava o que merece ser escrito, o que deve ser escrito — em confronto com as possibilidades diante da pĆ”gina, diante daquilo que assombra. Isso permanece muito vivo em mim: a busca de algo que ganhe suficiente pertinĆŖncia, que mereƧa ser conduzido ao papel e trabalhado com o devido rigor, com o devido esforƧo, para que constitua uma obra bem-sucedida. Em algum sentido, foi o que estabeleci hĆ” muito tempo.

• Fazer-se escritor
Como leitor, fui me guiando, procurando certos caminhos, tentando me constituir escritor. Antes de escrever meu primeiro livro, por exemplo, lia muitos primeiros livros de romancistas que apreciava e admirava. Lia bastante biografias de escritores, também, para saber, afinal, como eles chegaram a escrever e constituir uma obra. Estou menos entregue a esses vícios, mas à época parecia uma espécie de esforço medido para constituir algo próprio.

ā€œSinto que a literatura nos exige tudo, como a vida nos exige tudo, neste momento do paĆ­s.ā€

• CrĆ­tica literĆ”ria e ficção
Em nenhuma medida, num primeiro momento, fui escritor de projetar muitos livros consecutivamente. De construir um projeto amplo de obra e me dedicar a ele. De forma alguma. A entrega ao próximo livro, ao que vem por aĆ­, acontece a cada momento. No entanto, hĆ” um certo olhar para a literatura que guarda sua coerĆŖncia, sua organicidade, por assim dizer. As respostas ficcionais que vou encontrando para os problemas insolĆŗveis da crĆ­tica literĆ”ria acabam, talvez, constituindo o efeito de construção consabida ou sabida com antecipação, a ideia de que cada livro deriva do anterior. A crĆ­tica vem me habitando hĆ” certo tempo, desde que me dediquei Ć  trajetória acadĆŖmica. Ɖ um caminho mais coerente, estĆ”vel, firme, embora tambĆ©m sujeito a oscilaƧƵes. Uma coisa acaba incidindo sobre a outra. Na verdade, uma coisa e outra sĆ£o a mesma coisa.

• Caminhos sobrepostos
Não consigo nem desejo desligar a chave do crítico literÔrio na hora de escrever ficção. AliÔs, não considero nem viÔvel do ponto de vista conceitual. Por um tempo me senti, em alguma medida, dividido. Ou me concebi como sujeito dividido sem necessariamente sentir. Tinham duas atividades que eu trilhava simultaneamente: a de pensar literatura e a de produzi-la. Na prÔtica, com o tempo, fui me dando conta de que é uma só trajetória. De que as coisas estão completamente imbricadas, interconectadas. Uma coisa incide sobre a outra, inclusive de maneiras que eu mesmo não consigo controlar ou enxergar. Algumas vezes, tornam-se muito visíveis as influências.

• Nada divisĆ­vel
História de literatura e cegueira (2007) é derivação imediata do meu TCC em Jornalismo, ou seja, de uma pesquisa literÔria. Em seguida, o Procura do romance (2011) é uma resposta possível aos problemas que eu vinha encarando na dissertação de mestrado sobre a impossibilidade de narrar e a morte do romance. Então passa a ser um romance que encara como inevitÔvel a morte do romance e, paradoxalmente, tenta externar aquilo como romance. Mais tarde, enquanto escrevia A resistência (2015), me vi refletindo criticamente sobre as questões ligadas à autoficção. Tudo que venho escrevendo desde então é sobre a crise da própria ficção, que incide em uma forma de pensar e na minha maneira de escrever. EstÔ tudo completamente interligado, não existe um sem o outro. Não é que não dÔ para dividir, é que não hÔ nada divisível aí.

• Em busca da pertinĆŖncia
Na prĆ”tica, nĆ£o havia um programa literĆ”rio prĆ©vio que eu estivesse disposto a seguir. Talvez perdesse absolutamente todo o sentido se o projeto estivesse definido de partida e só me coubesse preencher as lacunas. Pelo contrĆ”rio, Ć© um exercĆ­cio de pensamento e de busca da pertinĆŖncia em cada novo livro. E, sobretudo, a cada novo presente — atento Ć s transformaƧƵes da própria literatura e do mundo. Cada vez mais estou convicto da ideia de que a literatura responde muito concretamente, muito diretamente, ao seu tempo. E de que isso constitui sua própria forma.

• SebastiĆ”n, o alter ego
O personagem SebastiĆ”n Ć© um alter ego, com certeza. JĆ” venho escrevendo com esse sujeito que encarei e concebi como alter ego hĆ” trĆŖs romances, desde 2011, quando publiquei Procura do romance — um livro que demorei quatro anos para escrever, ou seja, comecei em 2007, e o SebastiĆ”n nĆ£o me abandonou desde entĆ£o. Em alguma medida, sou refĆ©m dele. Me sinto comprometido alĆ©m da minha própria vontade, alĆ©m do meu próprio desejo, com esse sujeito e com essa forma de escrita.

• Era da suspeita
Entendo quando se acusa o excesso de autoficção, se acusa um viĆ©s quase mercadológico nesse tipo de escrita, mas acho que ele Ć© atribuĆ­vel a fatores muito mais longevos, profundos. HĆ” uma crise da própria ficcionalização que se instaurou na literatura hĆ” muitas dĆ©cadas, e que vai encontrando saĆ­das as mais diversas, influenciando-se mutuamente. HĆ” um sistema de influĆŖncias dentro da literatura, que acaba por constituir essa forma mĆŗltipla, coletiva, de escrita. Isso Ć© tributĆ”rio ao tempo que a [escritora russa] Nathalie Sarraute chamou de ā€œera da suspeitaā€, o lugar onde leitor e autor se indispuseram. O autor jĆ” nĆ£o conseguia projetar-se a si mesmo em um personagem muito diferente de si próprio, num segundo sujeito. E o leitor tambĆ©m jĆ” nĆ£o conseguia, nĆ£o queria, se reconhecer naquele sujeito, naquele protagonista. EntĆ£o se indispuseram autor e leitor, e algo sobre as possibilidades narrativas se rompeu.

• Relação com o real
Claro que se poderia explicar esse processo de muitas maneiras. Seja como for, parece que se revelou a arbitrariedade grande do exercĆ­cio de constituir um ser, dar-lhe um nome, uma trajetória, inventar um enredo para essa vida, com datas especĆ­ficas, acontecimentos, peripĆ©cias. Tudo isso se fez muito arbitrĆ”rio para uma sĆ©rie de autores. Um exercĆ­cio quase aleatório de criação, que se tornou quase impossĆ­vel para muita gente. HĆ” muitas saĆ­das para essa impossibilidade, e uma delas — que vem se dando com muita forƧa — Ć© a tentativa de aproximação ao real, abandonando o que era a prĆ”tica do realismo como forma. O que se tenta reconstituir Ć© uma relação mais imediata e mais concreta com o real. A autoficção Ć© uma dessas maneiras.

• Pós-ficção
A autoficção é o momento em que o romance se aproxima da autobiografia. O autor tenta se fazer o mais sincero possível, tenta constituir um olhar para sua própria vida, buscando o que hÔ de relevante e de autêntico. Essa é uma das formas de fazer autoficção, é claro, hÔ outras. Mas é uma das muitas maneiras de lidar com a crise da ficcionalização. Sinto que essa crise é muito mais vasta do que a própria autoficção e que se manifesta na aproximação do romance em relação ao ensaio, em relação à historiografia, à filosofia, ao discurso político. Enfim, uma série de hibridismos muito comuns na contemporaneidade, que eu prefiro chamar de pós-ficção, e não de autoficção, justamente para dar conta do problema mais vasto.

• Primado do objeto
O leitor, em alguma medida, sempre teve vontade de saber se o que estĆ” escrito Ć© real, mas era uma pergunta envergonhada. Deixada de lado. A própria academia nĆ£o permitia esse tipo de associação, esse tipo de olhar para a leitura. A vida do autor nĆ£o interessaria nada para compreender sua obra. Ɖ a ideia do primado do objeto: o que interessa estĆ” na obra em si, e o que estĆ” fora nĆ£o nos diz respeito, nĆ£o deveria atrair nossa atenção. Só que os autores comeƧaram a brincar com esse campo externo Ć  literatura, a ir buscar, com suas próprias mĆ£os, o que estĆ” fora e levar para dentro. Os leitores encontraram nisso a saĆ­da para finalmente fazer aquela pergunta envergonhada. Afinal, o que estĆ” aqui Ć© a sua vida? O que vocĆŖ estĆ” narrando aconteceu? SĆ£o questionamentos que devolvem certa vida ao próprio exercĆ­cio da leitura.

• Pacto ambĆ­guo
Dessa nova forma de fazer literatura se constitui um pacto ambíguo. Não é mais o pacto ficcional, em que um finge que as coisas que estÔ inventando são reais e o outro finge acreditar. HÔ um tensionamento na relação: tudo pode ser real e pode não ser. Os escritores começaram a brincar mais diretamente com essas correlações, constituem ambiguamente sua própria matéria, e isso altera o regime de leitura. Se me confessei um leitor arredio, e às vezes exigente, me sinto muito mais entregue em certo tipo de livro que trabalha essa margem entre o ficcional e o não ficcional. Me sinto mais entregue diante desse tipo de leitura, e talvez por isso me veja escrevendo dessa maneira.

ā€œNum dado momento, decidi que seria escritor. Tornou-se um objetivo, um caminho a ser perseguido.ā€

• Deslocar a realidade
Tudo que venho escrevendo nos Ćŗltimos anos passa pela experiĆŖncia pessoal e ao mesmo tempo Ć© transformado, deslocado, combinado, conjugado. As trĆŖs histórias que constituem o romance A ocupação (2019) nĆ£o se deram propriamente no mesmo tempo. O episódio do pai no hospital Ć© algo acontecido dez anos atrĆ”s, que permaneceu em mim e quase exigiu ser narrado. A gravidez e a perda do bebĆŖ foram fatos mais recentes, de uns cinco anos atrĆ”s. E toda a experiĆŖncia na ocupação se deu durante a escrita do próprio livro, em 2017. HĆ”, de partida, o deslocamento temporal. Existe tambĆ©m um deslocamento espacial. Alguns dos personagens que narro como presentes na ocupação nĆ£o os conheci ali, desloquei de outros lugares. Geralmente, o que levo para a literatura sĆ£o experiĆŖncias que tenho e que, por alguma razĆ£o, nĆ£o se resolvem por completo em um primeiro momento. Que continuam me convocando, me exigindo pensamento, reconvocando nas suas nuances a minha memória, e acabo me sentido preso Ć quela experiĆŖncia e desejoso de transformĆ”-la em outra coisa. Ɖ no deslocamento, no exercĆ­cio de montagem, travessia, tempos e espaƧos, que a coisa se torna propriamente ficcional. Esse Ć© o elemento de ficção que existe na obra em si, nas coisas que tenho escrito. Muito mais do que qualquer possibilidade de fabular. Muito mais do que invenção. O que existe Ć© o deslocamento que tem a finalidade de tornar tudo mais expressivo, mais enfĆ”tico, e mais coeso.

• CenĆ”rio desfavorĆ”vel
A crĆ­tica literĆ”ria — como a própria literatura, a cultura como um todo — tem sido estrangulada no atual cenĆ”rio da nossa sociedade. Resta pouco espaƧo para a crĆ­tica literĆ”ria. Os espaƧos tradicionais foram sendo perdidos pouco a pouco. O investimento em crĆ­tica literĆ”ria, tanto nos cadernos culturais, nos jornais, quanto nas universidades foi caindo paulatinamente. Neste momento, talvez nunca tenha sido tĆ£o baixo. Ɖ inevitĆ”vel que isso incida no alcance, na qualidade, na profundidade, do exercĆ­cio crĆ­tico. Ɖ uma consequĆŖncia incontornĆ”vel. Só que, ao mesmo tempo, como a própria literatura e cultura, a crĆ­tica literĆ”ria sobrevive. A crĆ­tica literĆ”ria resiste, encontra seus novos espaƧos. Busca outras maneiras de existir.

• Novo lugar das letras
Sinto que, da mesma maneira que a literatura, a crĆ­tica literĆ”ria tem se subjetivado. Novos canais de discussĆ£o de livro se tornaram muito menos afeitos a uma ideia cientĆ­fica de literatura, ou uma visĆ£o objetiva de leitura, e muito mais entregues a uma visĆ£o pessoal, a um olhar subjetivo para os livros. ƀs vezes pautado demais pelo gosto, pela estima mais imediata e rasteira. Mas, de qualquer forma, acontecendo com enorme relevĆ¢ncia. O importante Ć© que a literatura se realize como debate, como diĆ”logo, do qual participam nĆ£o só os leitores mas tambĆ©m escritores, crĆ­ticos. Um debate que se faz mais plural, mĆŗltiplo. Em vĆ”rios sentidos, isso tem se incrementado, enriquecido. Pode ver que, nesse trajeto, saio de um olhar pessimista sobre o papel e o lugar da crĆ­tica literĆ”ria e vou migrando em direção a algo que pode ser muito mais positivo e construir um futuro da literatura mais dialógico, aberto Ć  diferenƧa.

• Papel do escritor
NĆ£o costumo gostar de respostas muito estĆ”veis e rĆ­gidas, atemporais, sobre o papel do escritor. Poderia dizer que o escritor deve se engajar, participar dos debates sociais e polĆ­ticos. Seria, me parece, algo razoĆ”vel e justo neste momento, mas nĆ£o serve necessariamente para qualquer tempo. Pelo contrĆ”rio, a percepção Ć© que essa questĆ£o Ć© muito longeva, atravessa a literatura hĆ” muito tempo, Ć© respondida de maneiras diferentes, em Ć©pocas diferentes, em função das circunstĆ¢ncias e dos contextos que vai encontrando. Dez anos atrĆ”s, acho que a resposta mais razoĆ”vel seria pensar que o escritor pode se comprometer mais diretamente com sua própria forma, com sua própria linguagem, e constituir a partir disso a obra mais relevante, rigorosa e profunda possĆ­vel. Só que, em tempos de mĆ”xima urgĆŖncia, de alarme, parece que se exige — nĆ£o só dos escritores, mas de cada um de nós — um posicionamento mais direto, mais claro. Uma intervenção. NĆ£o acho que se torne obrigatório ao escritor participar de um debate pĆŗblico, mas o próprio momento exige ao mĆ”ximo de quem puder realizar algum tipo de intervenção. Algum tipo de transformação da sensibilidade, do olhar. O paĆ­s, neste momento, nos exige isso muito concretamente, e o escritor que puder responder a esse apelo vai ser muito bem-vindo. Sinto ao mesmo tempo que isso tem acontecido. NĆ£o acho que os escritores tenham perdido o espaƧo nos tempos recentes.

• Literatura ocupada
A literatura conseguiu se engajar bastante. Eu mesmo vinha defendendo, ao escrever A ocupação, um olhar para uma literatura ocupada. A possibilidade de uma literatura ocupada, que temporariamente tem sua função transformada, para que consiga lidar com o presente e a política. Ocupada não mais exclusivamente pela voz do próprio autor, mas também pela voz dos outros. Pelas vozes que vêm sendo silenciadas. Pelas vozes que precisam ser mais ouvidas neste cenÔrio. Minha resposta para um imperativo da política no nosso tempo é a possibilidade de uma literatura ocupada.

• Literatura total
Ao mesmo tempo, posso dizer que isso jĆ” comeƧa a oscilar em outra direção na minha própria sensibilidade. Ao me dar conta que neste momento — tĆ£o dramĆ”tico e tĆ£o extremo — a literatura tem se engajado amplamente, e resolvido lidar com este presente com um comprometimento que se viu poucas vezes ao longo da nossa história, tambĆ©m comeƧo a sentir falta de outras coisas na literatura. Meu sentimento Ć© de que a literatura precisa ser tudo. De que a gente precisaria de uma literatura total: capaz de lidar com o presente, com os desafios polĆ­ticos e sociais do paĆ­s, mas tambĆ©m aberta a outros voos — lirismos, possibilidades mais Ć­ntimas, exploração do pessoal, nĆ£o só do polĆ­tico e do coletivo, aberta justamente a compreender essas relaƧƵes mĆŗltiplas que se criam entre o individual e o coletivo. Sinto que a literatura nos exige tudo, como a vida nos exige tudo, neste momento do paĆ­s. Que a forma de resistĆŖncia Ć© justamente multiplicar possibilidades, aderir Ć  vida no seu sentido mais amplo, e nĆ£o fechar o olhar num Ćŗnico aspecto das possibilidades de intervenção.

• Imersos no pesadelo
NĆ£o tem como nĆ£o olhar de forma aterrorizante diante do que estĆ” acontecendo no Brasil de hoje. A gente fica oscilando num vasto rol de sentimentos, que vĆ£o do desespero Ć  indignação. NĆ£o conseguimos sair muito disso. Ɖ preciso, e vai ser preciso durante muito tempo, compreender o que se deu para estarmos neste lugar. Por um tempo se julgava que o que estava acontecendo podia ser prenĆŗncio de algo pior. A eleição do Bolsonaro seria o vaticĆ­nio de um golpe, de uma ruptura da democracia, de uma guinada em direção a um autoritarismo extremo, de um novo pesadelo. Mas jĆ” estamos imersos nesse pesadelo, e ele nĆ£o precisa ficar mais grave do que isso para que a gente conceba sua extrema gravidade. Estamos num momento muitĆ­ssimo agudo, muito mais agudo do que qualquer outro que eu mesmo tenha vivenciado. Nunca imaginei, na minha vida, chegar a este lugar. NĆ£o imaginei que o Brasil chegaria a este lugar, em que parte de sua população batalha pela preservação das desigualdades e violĆŖncias. Vai ser preciso compreender isso com a mĆ”xima profundidade e transformar o cenĆ”rio da melhor forma possĆ­vel. Sinto que o processo jĆ” estĆ” acontecendo, que comeƧamos a nos descolar disso. Mas tem muito chĆ£o pela frente.

• Tipos de resistĆŖncia
Em A resistĆŖncia, eu tinha um olhar que se voltava para o polĆ­tico, mas nĆ£o com a disposição de uma intervenção. Era mais para pensar as muitas maneiras que a trajetória polĆ­tica de um paĆ­s acaba incidindo nas vidas individuais. Esse continua sendo meu foco, meu olhar. Em A resistĆŖncia e A ocupação, isso me interessou: a maneira que os processos coletivos incidem sobre o indivĆ­duo e sua vida particular. Isso me movia muito para a escrita. Mas, enquanto escrevia A resistĆŖncia, nĆ£o era por si mesmo uma literatura resistente, nĆ£o tinha esse propósito. Só num especĆ­fico sentido. Gosto do termo ā€œresistĆŖnciaā€ pela complexidade que ele tem, pela ambiguidade, sobretudo. ResistĆŖncia a gente usa para nomear duas coisas muito opostas: a resistĆŖncia no sentido mais negativo, de nĆ£o querer encarar, nĆ£o conseguir olhar, e isso se dava dentro da minha esfera familiar. A gente resistia a falar sobre a questĆ£o da adoção, a relembrar a perseguição polĆ­tica na Argentina, as nuances do exĆ­lio. Havia muitas dimensƵes de resistĆŖncia negativa na famĆ­lia. E, ao mesmo tempo, a gente nomeia como resistĆŖncia uma coisa muito mais assertiva: uma tomada de posição, uma composição de forƧa coletiva, e a ideia de um ato de forƧa. Minha ideia de uma literatura efetivamente de intervenção Ć© a que transforma uma resistĆŖncia em outra. Queria que a literatura fosse essa ponte que leva da resistĆŖncia em seu sentido mais negativo Ć  resistĆŖncia positiva. Agora, em termos de literatura de intervenção, isso se tornou muito mais forte na escrita de A ocupação — tem, de partida, a proposta de olhar para o presente, para a condição polĆ­tica do Brasil no nosso tempo, abrir espaƧo para vozes silenciadas e, assim, talvez, em alguma medida insondĆ”vel, produzir transformação.

• Novo mercado editorial
Talvez seja possível utilizar a mesma dinâmica do comentÔrio sobre crítica literÔria: algo de tradicional que vai se partindo, se rompendo. As livrarias e as editoras tradicionais estão encontrando mais dificuldades nos tempos recentes. O mercado literÔrio pena, em alguma medida, diante de um novo cenÔrio que vai estrangulando a própria cultura. Mas hÔ muitas formas de resistência. A resistência também se dÔ dentro do mercado editorial. Alguém poderia conceber esse ramo na sua condição estritamente de mercado, e portanto de lugar de repetição, dogmatismo, mas é algo muito mais vivo e rico do que isso. Pode ser um agente, por si próprio, de transformação cultural e de abertura para o novo. Sinto que, nessa transformação constante e plena do mercado, vão se abrindo espaços para novas iniciativas, novas livrarias, novas editoras. Isso tudo tem acontecido com bastante efervescência.

• Cultura do romance
A questão do romance, para mim, é gigantesca e interessantíssima. A gente pode olhar para ela só pelo viés do que tem de excessivamente dominante, mercadológico, do que tem de opressor. A ideia de que um escritor precisa escrever seu romance para ser finalmente lido e reconhecido; editoras que vão preterindo obras de outra natureza, rejeitando contos, poesia. Tudo isso se dÔ e é parte do problema da cultura do romance. Mas o romance como questão é muito mais amplo do que isso. E muito mais vivo.

• GĆŖnero indefinido
Em alguma medida, o romance consegue conjugar em si mesmo uma sĆ©rie de tensƵes do exercĆ­cio literĆ”rio, da própria arte, e expressar essas tensƵes de forma muito contundente, eloquente. Ɖ uma questĆ£o, um problema, muito interessante de acompanhar. Para mim, a indeterminação, a instabilidade, a ausĆŖncia de marcas ou regras estritas que caracterizam o romance sĆ£o o que ele tem de mais interessante e que o torna mais vivo e revolucionĆ”rio em sentido formal. O romance Ć© completamente aberto. O futuro do romance Ć© completamente indefinido, tambĆ©m. HĆ” tanto vaticĆ­nio sobre a morte do romance porque algo estĆ” sempre morrendo e nascendo no gĆŖnero, e a gente nĆ£o sabe exatamente para onde vai.

• Crise do romance
Estudando a história do romance, percebi que o que a gente conhece por crise do romance Ć© algo que perpassa tudo. Que existe desde sua origem. E que vai, ela própria, se transformando e se confundindo com a história do gĆŖnero. A história do romance e a história da crise do romance estĆ£o completamente interligadas, imbricadas. Considero que hĆ” algo de muito fundamental aĆ­ para entender se se desejar escrever literatura hoje e pensar uma literatura do futuro. Acho fundamental que o escritor se mantenha atento ao que jĆ” se produziu, ao que jĆ” se discutiu, e que perceba que ele estĆ” sendo conformado por esse passado, que esse passado existe dentro dele — quer ele queira encarar, quer nĆ£o. Que isso Ć© uma das marcas da sua própria trajetória. Que o melhor talvez seja abraƧar essa influĆŖncia e tentar transformar em outra coisa. Ɖ o que eu mesmo tenho tentado fazer na minha própria literatura e nesse olhar dividido entre o exercĆ­cio da crĆ­tica e da escrita.

• Literatura e poder
A literatura é uma forma de exercer o poder, mas também um espaço de poder. Um espaço de disputa. A hegemonia econÓmica de certas nações vai se traduzindo muito concretamente em hegemonia cultural e literÔria. Meu olhar na escrita do livro Romance: história de uma ideia (2021) foi justamente para refletir o papel do cânone e a constituição do cânone por si mesmo. De fato, o que eu poderia estabelecer como recorte é uma leitura a partir dos autores mais influentes da história da narrativa, do romance. Os sujeitos influentes estão marcados por características centrais e opressivas, que precisam ser desconstruídas. Tenho plena consciência disso, de que essa não pode ser a história do romance. Que é preciso escrever muitas histórias do romance, constituídas a partir de outros vieses.

• Olhar para o romance
No meu livro mais recente, o objetivo Ć© tentar olhar atentamente para a história do romance tal como ela costuma ser contada e romper com certas visƵes estanques demais, calcificadas demais. Construir outro olhar baseado e fundado nas instabilidades do próprio gĆŖnero e naquilo que acaba por constituir suas falĆ”cias, suas mentiras. As mentiras que o romance fala sobre si mesmo. Mas, de fato, um movimento muito mais importante do que esse que fiz no ensaio Ć© o de multiplicar o olhar. O de perceber que, em algum momento, o romance sai de um continente Ćŗnico, se expande e se torna dominante no planeta inteiro, que ali vai encontrar outras origens, inclusive, outras formas de narrar que influenciam o novo romance em cada novo continente, em cada novo paĆ­s. Ɖ preciso trilhar vĆ”rias genealogias. NĆ£o Ć© uma só a história do romance. O romance tem mĆŗltiplas histórias, e pode ser contada de infinitas maneiras. Quase tĆ£o infinitas quanto sĆ£o os próprios romances. Seria preciso olhar de novo para essa história, e olhar por vĆ”rios Ć¢ngulos. O meu olhar Ć© só uma maneira, obviamente parcial e contingente, de fazer esse exercĆ­cio.

• ExercĆ­cio hercĆŗleo
Precisamos, com mĆ”xima urgĆŖncia, olhar para aquilo que ficou esquecido na história da literatura. Que foi relegado ao segundo plano, nĆ£o encontrou o devido espaƧo. Ɖ um ofĆ­cio hercĆŗleo refazer essa história. NĆ£o me vejo apto, mas aprecio muito os crĆ­ticos e historiadores que sĆ£o capazes de refazer essa trajetória com outro viĆ©s, outro olhar. Algo de fundamental tem acontecido no presente, e com a transformação do presente acredito que o passado tambĆ©m vai ser reconstituĆ­do.

• TransformaƧƵes atuais
A gente tem dado muito mais atenção, a devida atenção, Ć  literatura feita por mulheres. Isso Ć© muito claro na AmĆ©rica Latina. Os principais autores jovens da AmĆ©rica Latina sĆ£o mulheres: Lina Meruane, Mariana Enriquez, Samanta Schweblin. Muitas autoras transformando a literatura na AmĆ©rica Latina e no mundo a partir de um olhar próprio. Esse movimento estĆ” acontecendo, acredito, com mais forƧa do que em qualquer outro tempo. Lembrando que faz poucas dĆ©cadas que tivemos o realismo mĆ”gico, e o boom latino-americano, escrito quase que somente por homens, em um cenĆ”rio em que os homens eram muito mais lidos do que as mulheres. Isso vem se transformando. TambĆ©m acho que a literatura feita por negros e negras vem adquirindo mais atenção, e a partir desse novo espaƧo vĆ£o surgir novos olhares — para o passado e para o futuro. A literatura vai se transformar. Acho que Ć© o que temos de mais auspicioso no momento.

Foto: Tomas Bertelsen

ā€œA hegemonia econĆ“mica de certas naƧƵes vai se traduzindo muito concretamente em hegemonia cultural e literĆ”ria.ā€

• Escrita na pandemia
A pandemia me afetou imensamente, como afetou a todos nós. Ɖ curioso porque, no momento em que comeƧou a pandemia, minha segunda filha tinha nascido fazia pouco tempo, tinha quatro ou cinco meses, e eu nĆ£o estava escrevendo nada naquele momento. Quando se deu a quarentena extrema, me vi completamente entregue Ć  função parental, com minha mulher em trabalho de tempo integral, e incapaz de escrever qualquer coisa. Foi completamente impossĆ­vel encontrar o espaƧo e o tempo necessĆ”rios para a reflexĆ£o e escrita. Só que foi nessa circunstĆ¢ncia mais complicada possĆ­vel que me vi tentado a aceitar um convite que tinham feito para mim, muitos anos antes, para me tornar colunista do UOL. Sem tempo para nada, e sem a possibilidade efetiva de uma reflexĆ£o aprofundada de tudo isso, me vi desafiado a escrever. Precisei escrever. O imperativo da escrita falou mais alto. Foi o que fiz. Aceitei me tornar colunista. Aceitei esse convite que era antigo, e portanto passou a ser quase um pedido meu. Com o tempo, me vi refletindo muito sobre o estado das coisas do Brasil de hoje, sobre a minha própria vida familiar, essa situação tĆ£o peculiar, e sobre a própria pandemia.Projeto do momento

Publicando no UOL, me dei conta de que estava escrevendo um livro. Que de pouco a pouco, um texto por semana, aquilo ia se constituindo um pensamento Ćŗnico, com muitas nuances, facetas. Aos poucos, ao perceber que estava escrevendo algo como um livro, fui o constituindo. Pensando: o que falta? O que deixei de falar? Qual aspecto desse presente ainda nĆ£o encarei? Na prĆ”tica, óbvio, Ć© um exercĆ­cio muito diferente: escrever uma coluna envolve atenção ao assunto do momento, aquilo que as pessoas estĆ£o discutindo, ao que estĆ” se dando mais amplamente entre todos. NĆ£o Ć© uma decisĆ£o muito exclusiva e individual sobre o que escrever, mas ao mesmo tempo nĆ£o difere tanto da escrita de um livro como qualquer outro, que traz planejamento, certa dose de surpresa em cada passagem, que exige uma reflexĆ£o contĆ­nua de por onde ir, por onde seguir. Ɖ isso que estou escrevendo neste momento. Aderi como projeto. Ɖ o Ćŗnico possĆ­vel. Em outro momento, obviamente, vou voltar ao romance.

• Futuro
NĆ£o faƧo a menor ideia do que vou escrever sobre a pandemia. Nem se vou escrever. Sinto que houve uma antecipação enorme dessa resposta. Havia um ou dois meses de pandemia e jĆ” se publicavam longos artigos, por exemplo no The New York Times, temendo o excesso de romances sobre pandemia que haveria nos anos seguintes. O boom de romances pandĆŖmicos. Mas ninguĆ©m tinha escrito romance pandĆŖmico nenhum. HĆ” uma antecipação da própria crĆ­tica literĆ”ria. E hĆ” um medo dos escritores de que vĆ£o chover no molhado: ā€œĆ‰ impossĆ­vel escrever sobre qualquer outra coisa neste momento, porque a escrita de outros assuntos Ć© impertinente, mas escrever sobre pandemia vai resultar de novo em mais um livro sobre tudo aquilo que todo mundo viveu e jĆ” conheceu demaisā€. SĆ£o problemas que acho que foram antecipados e que ainda precisam encontrar, e encontrarĆ£o, sua resolução formal. NĆ£o sei o que vai acontecer, porque a imprevisibilidade Ć© uma das marcas indissolĆŗveis da própria literatura e o que ela tem de mais interessante. NĆ£o tenho dĆŗvida de que a pandemia em si Ć© um fenĆ“meno que rende boa literatura, que pode nos levar a lugares muito interessantes na escrita. Agora, como isso vai se dar como fenĆ“meno mercadológico, aĆ­ nĆ£o consigo prever.

Romance: história de uma ideia
JuliƔn Fuks
Companhia das Letras
216 pƔgs.
Paiol LiterƔrio

O projeto Paiol LiterĆ”rio, realizado pelo Rascunho desde 2006 em Curitiba, jĆ” contou com a participação de mais de 70 autores brasileiros. Ɖ um grande acervo sobre a literatura brasileira contemporĆ¢nea. Os encontros sĆ£o iniciados sempre com a pergunta: ā€œQual a importĆ¢ncia da literatura na vida cotidiana das pessoas? E por que ler?ā€.

Rascunho